Quem é Deus?

O que dizer de alguém que nunca nasceu e sempre existiu? A palavra hebraica “keshet”, que significa arco-íris, pode nos ajudar nessa busca. Eu nunca mais olhei pra um arco-íris do mesmo jeito. Não depois de mergulhar no que Apocalipse 4:3 diz: “Aquele que estava sentado no trono brilhava como pedras preciosas, como jaspe e sardônico. Um arco-íris, com brilho semelhante ao da esmeralda, circundava seu trono”. Aqui um leve spoiler sobre a beleza de Deus, descrita com todo o cuidado de enaltecê-lo e chegar o mais próximo daquilo que conhecemos para melhor assimilarmos na imaginação. Nenhum de nós nunca viu o seu rosto, isso é fato. Mas, acredito que a beleza de Deus se revela no seu caráter. Imagino que seja nisso que ele gostaria que prestássemos atenção nEle. Ele não precisa de um rosto pra definir/mostrar quem é. Ele não precisa de um rosto pra conceituar beleza. O seu caráter revela características morais e emocionais. Se ainda não o vimos, me atrevo a pensar que talvez seja porque nesse corpo corruptível, ainda não estejamos prontos para conhecê-lo. Vimos o Filho, a autorrevelação de Deus e ainda assim não o compreendemos. “O Filho irradia a glória de Deus, expressa de forma exata o que Deus é…” Hebreus 1:3a. Conhecer a Deus é, na definição mais resumida,  me aproximar de seu Filho Jesus. Quando fala que Ele mantém o arco da aliança sempre na sua presença, pra mim é a parte mais linda e tocante. Revela alguém com emoções. A aliança feita com Noé e seus descendentes continua de pé por gerações e gerações. Volto mais uma vez à beleza do caráter de Deus. Se em algum momento quisermos acusar Deus de crueldade, abandono, etc… é bom parar pra pensar que durante séculos Ele tem olhado para aquele arco ao redor do seu trono, símbolo da sua Aliança conosco. O Arco da Aliança fala de fidelidade, de compromisso dele com a humanidade. Eu também diria que pode funcionar como um lembrete do seu amor por nós. Imaginei Deus às vezes meio indignado com “uns foras” que a gente dá, daí Ele olha pro arco-íris e respira beeem fundo. Haha. Um lembrete pra usar de misericórdia e bondade conosco. Ter um arco-íris no ambiente do seu trono, como disse certo autor: “é o mesmo que um pai que possui uma bela foto de seus filhos em seu ambiente de trabalho”. Então por hora, Deus é caráter. Mas essa nossa conversa não acaba aqui.

A MANCHA

Todos os dias Amanda acordava com o seu habitual mau humor matinal. Olhava-se no espelho e desejava não precisar cumprir a agenda de compromissos. Nos primeiros momentos do dia, comunicava-se por monossílabos: “sim” ou “não” e quando obrigada a dar respostas mais elaboradas, irritava-se profundamente. Com o semblante apático, justificava aos curiosos e a si mesma um sussurrado: -cansaço. Enquanto as horas passavam, Amanda aos poucos liberava pequenas manifestações de contentamento até que, quando finalmente sentia-se pronta para começar o dia, ele já se fora. Repetidamente isso acontecia, desde que se reconhecera como adulta. Um certo dia, ao realizar o costumeiro ritual em frente ao espelho, percebeu um pequeno sinal branco no canto direito da boca. Acreditou não ser importante e ignorou. No outro dia, o pequeno sinal aumentara para algo mais perceptível. Procurou disfarçar com uma generosa camada de maquiagem e seguiu o dia normalmente. Na manhã seguinte, a marca convertera-se em uma larga mancha resistente aos cosméticos. Enquanto analisava o seu reflexo em busca de uma rápida solução, percebeu que todas as vezes em que esticava os lábios como se estivesse sorrindo, a mancha perdia-se entre o contorno das bochechas. Decidiu que naquele dia sairia sorrindo a todos, na esperança de evitar constrangimentos ou indagações relacionadas à sua aparência. A princípio, este comportamento causou estranhamento em todos que a conheciam, mas no decorrer de poucos dias, até a preferiam assim. Sorrir já não parecia mais um esforço. Estava condicionada e até sentia-se bem. Os dias tornaram-se leves e inclusive passou a ser vista como uma pessoa simpática. Em uma bela manhã, ao fazer uma reflexão frente ao espelho, lembrou-se do motivo que gerara sua transformação e percebeu que a mancha havia diminuído. No dia seguinte, quase não se via o pequeno sinal e no próximo amanhecer, assim como a mancha havia surgido misteriosamente, desaparecera por completo. Há quem diga o contrário, que tal acontecimento ofenda a coerência, mas a partir desse dia, Amanda acreditou que a tal mancha pudesse ter alguma relação com a sua sisudez e, por via das dúvidas, nunca mais passou um dia sem sorrir.

Águas movimentadas – Parte 1

Após uma caminhada cansativa atravessando a montanha, um belo pôr-do-sol surgiu diante do pequeno grupo de amigos. Marina, Lia, Max e Duca estavam animados. A praia aparentava estar deserta. O ritmo das ondas parecia hipnotizar os novos visitantes. Marina não resistiu. Foi a primeira a se entregar ao abraço afável das águas. Max e Duca também a acompanharam mas, a temperatura gelada fez com que abandonassem imediatamente o mergulho ao som das vaias da desafiante que lá permaneceu. Marina afastou-se da praia até as águas atingirem o pescoço. De repente, algo movimentou as águas. Marina não conseguia ver, mas sentia que a coisa avançava pelo fundo. O medo a impulsionou a nadar de volta à praia. Embora andasse rápido, sentiu algo derrubá-la por trás. As águas movimentadas impediam-na de ver o seu oponente. Não sentia dor, não havia sangue, o que a deixava confusa. Não se tratava de um ataque selvagem. Sentia que o oponente estava tentando puxá-la para as profundezas. Foi quando disparou um forte chute que atingiu a coisa. Tempo suficiente para conseguir chegar na parte rasa. Ofegante, olhou para o mar. Nenhum sinal de perigo. Lia e Duca se aproximaram. Marina perguntou se eles ouviram os seus gritos, se haviam entrado na água e tentado puxá-la para o mar, que a brincadeira fora infeliz. Ela obteve não para todas as perguntas. Max, surgiu logo depois. Todos ouviram surpresos o relato e pegaram suas mochilas. Aquelas águas escondiam algum mistério e eles não estavam interessados em descobri-lo.

– RELACIONAMENTOS SÃO CONTRATOS –

Não tem um dia sequer que a gente não lide com pessoas. Elas sempre estarão lá, seja pra trazer felicidade ou pra nos ajudar a crescer através de conflitos. Não dá pra fugir disso. Pessoas são inevitáveis. Eu sou inevitável (já dizia Thanos rs), inclusive, e também passeio por esses dois extremos quando me relaciono. Posso curar ou ferir. Acho que nenhum de nós, por mais que nos esforcemos, estaremos isentos de falhar nas nossas relações, mesmo quando existe amor envolvido. Um dia eu posso estar na zona de ataque, e no outro, posso estar na zona de defesa. O fato é que todos nascemos pra nos relacionar, seja com Deus, com nós mesmos, com a natureza, com os outros… E me parece que isso dura a vida inteira e além dela, afinal, acredito na promessa de que vou conhecer a Deus face a face e me relacionar com ele num espaço de tempo infinito que a gente conhece por eternidade. Quando a gente decide se relacionar, a gente assume viver riscos. Porque envolve um acordo de vontades entre pessoas em que todos os lados têm direitos, obrigações a serem cumpridas, liberdade e consequências. A gente meio que assina um contrato e nos termos aparece lá no final, nas letras miudinhas que ninguém quer ler: não há garantias, nem prazo de validade. Contém defeitos graves. Não pode ser anulado (em alguns casos). Mas ninguém nunca me avisou sobre isso. Daí que ao longo da minha vida fui assinando vários contratos. Alguns consciente de que seriam temporários, outros acreditando que teriam longa duração. Outros foram rompidos sem aviso prévio. Outros construí com o tempo e se tornaram inquebráveis, de ordem familiar. Nesse longo aprendizado, existiram falhas, não dá pra negar. A gente também acaba firmando contratos irresponsáveis, que prejudicam os outros e a nós mesmos. E desfazer ou ajustar dá trabalho. Fazer o quê né? É o tal do risco. O bom dos contratos é que a gente decide manter ou anular. Construir relacionamentos não é fácil, mas também não é tão difícil. Dependendo das circunstâncias, às vezes o melhor a fazer é resolver as pendências e liberar, pra nossa alma respirar. Mas em outros casos, quando se trata de alianças inquebráveis, não dá pra gente abrir mão. Relacionamentos de sucesso só chegaram nesse nível porque houve tolerância, perseverança e um voto de confiança renovado todos os dias. Em Colossenses 3:13 diz: “sejam compreensivos uns com os outros e perdoem quem os ofender”. O exercício do perdão tem efeito boomerang, vai e volta. Eu perdoo hoje pra ser perdoada amanhã. Ou por acaso eu sou sem defeitos e não tiro a paciência de ninguém? Só usufrui da paz quem começa a enxergar que a capacidade de perdoar deve ser maior que o desejo de estar certo. A gente vai aprendendo que ser flexível é importante pra manter relacionamentos saudáveis. O que dobra mais fácil? Uma folha de papel ou um pedaço de madeira? A flexibilidade pode fazer permanecer inteiro. Jesus conviveu com Pedro, uma pessoa de temperamento “difícil”, impulsivo… Mas, Ele não foi influenciado a agir da mesma maneira. E como não deixar que o comportamento alheio interfira em quem eu sou e em como me sinto? Como blindar as minhas emoções?  Não posso mudar como as pessoas pensam e agem mas, posso mudar como interpreto isso. Posso mudar como fechar o meu coração pra isso. Posso me blindar pra não ser ofendida conhecendo o meu temperamento e o das pessoas que estão no meu círculo de relacionamentos. Eu observo, identifico e mudo. Consigo mudar o meu temperamento? Acho que não, mas consigo equilibrar. Passo a flexibilizar minha forma de pensar (menos os princípios) pra conviver melhor com as diferenças. Às vezes quando me frustro com algumas atitudes alheias, procuro pontuar as coisas boas que essa pessoa tem. Enalteço os pontos positivos e considero que um momento não pode falar mais alto sobre quem ela é o que ela representa pra mim. Já ajuda bastante a retomar o equilíbrio das emoções. Melhorar é uma decisão e eu escolho praticar isso com os meus futuros contratos.

– BONDADE PATERNA –

A minha constância é errar. A Tua constância é me amar. Isso repetidamente me constrange. Na multidão dos meus pecados, sinto que não mereço ser alvo da Tua bondade. Eu respiro a Tua bondade todos os dias: “certamente que a bondade e a misericórdia me seguirão todos os dias da minha vida” (Salmos 23:6a). A mente vez ou outra tenta deturpar as tuas palavras, mas, o entendimento me faz perceber que, embora seja tentador justificar os meus premeditados erros na permanência da tua Graça sobre mim, não posso me aproveitar disso. Quanto mais os anos passam, mais aprendo que a tua bondade não se trata de algo condicional, do tipo, “SE” eu for perfeita posso obtê-la. Não é algo que acaba quando eu falho, mas, é demonstrada principalmente nos meus períodos de fraqueza. Não é algo que eu tenho porque mereço, mas porque preciso. Por isso a Tua bondade me acompanha todos os dias. Pensar sobre isso me faz entender as palavras de Jesus quando declarou “ninguém há bom senão um, que é Deus” (Marcos 10:18). Só você é bom porque a Tua bondade é coerente, abrangente e racional. Enquanto me vejo selecionando uma lista de destinatários que receberão o meu bem querer, você ao contrário de mim, não faz acepção. A Tua bondade é para todos. Você quer o bem de todos. Você é bom. As Tuas palavras são boas. As Tuas ações são boas. A Tua correção é boa, afinal um pai que ama, cuida. Descobri que o teu nome é Zeloso (Êxodo 34:14) e isso explica as muitas vezes que você zelou por mim, mesmo eu acreditando que talvez você estivesse fazendo intervenções demais. Ainda bem que você zelou e me poupou de situações que poderiam ter causado grandes estragos. Depois que a poeira assenta é que entendo as tuas manifestações de misericórdia e reconheço que você sabia mesmo o que estava fazendo. E mais uma vez a Tua bondade me constrange com a nobreza de não me desmerecer diante dos meus equívocos. Torno a dizer: a minha constância é errar. A tua constância é me amar. A tua bondade não desiste de mim, mas me oferece a reaproximação. Ela desmistifica as mentiras que a mente conta sobre os meus erros. Se por um lado o pecado tem a força de me afastar de ti, por outro, a Tua bondade tem a força de me chamar para perto. Eu prefiro ouvi-la. À medida com que recebo as tuas beneficências em mim, elas me impulsionam a querer te imitar e me torno agente da Tua bondade. Porque a tua bondade são atos. E, por mais que o raciocínio se esforce para compreender e definir os teus surpreendentes atos, ele não alcançaria a profundidade dos teus juízos. Porque dele (é a bondade), e por ele (é a bondade) e para ele são (os frutos da bondade) todas as coisas (Romanos 11:36). Amém!

– INCONVENIENTE RESISTÊNCIA –

Parece fácil sentir mas, há quem se perca no labirinto das emoções. Eu sinto todos os dias. Sinto muito. Sinto pouco. Algumas vezes finjo não sentir. Mas sinto. Coisas boas e ruins. E o coração rala filtrando tudo isso. Compreendo que cada um reage de uma forma diante dos seus enfrentamentos. Enquanto alguns conseguem (sem muita resistência) se desfazer de sentimentos nocivos, outros por outro lado, sentem apego. Eu sou apegada, honestamente. Melhor, estou. Acredito na transformação em andamento em meu coração. Mas, quero deixar claro, que não é proposital. Confesso que me demoro em digerir aquilo que se mostra amargo. Como a comida que precisa ser mastigada aproximadamente 30 vezes para ser bem recebida no estômago, tenho a necessidade de moer bem os meus sentimentos. Se me demoro moendo, é porque tenho a necessidade de entender com o que estou lidando. É parte do meu processo. Não basta lançar fora, tenho que conhecer o que foi lançado. Uma vez que conheço a minha fraqueza, me aperfeiçoo nela. A ponto de não agir mais como uma amadora se eventualmente me deparar com as mesmas dificuldades. Bom, essa minha inconveniente resistência pode ser incompreendida por quem observa de fora. Mas quero avisar que sentir não tem um padrão. Sentir não é uma competição de quem consegue ser mais forte que o outro. Sentir não é uma exposição que precisa de aplausos ou vaias. Sentir não é uma comparação entre indivíduos. Não tem a ver com ser o melhor colecionador de medalhas emocionais. Não preciso igualar o meu comportamento ao de outras pessoas que supostamente enfrentaram os mesmos conflitos e tiraram de letra. Torno a dizer, cada um reage de um jeito. Cada ser é diferente em seu mundo único. Cada coisa a seu tempo. Há tempo de guardar e tempo de deitar fora (Eclesiastes 3:6). Não vamos pular etapas. Não vamos apressar aquilo que requer de mim uma atenção maior. Muitos são os desgastes emocionais, mas tenho a promessa de que o Senhor me livra de todos eles (Salmos 34:19). Quando confio no livramento do Senhor, o meu coração é conduzido para fora de qualquer labirinto. Ele não se sente mais perdido mas é conduzido a um novo tempo e eu percebo isso claramente. O que me ajuda a achar a saída? O que a maioria despreza: ouvir o que Deus diz. A tua Palavra é luz para o meu caminho (Salmos 119:105). A tua luz me ajuda a tomar decisões importantes. Decisões baseadas não no que eu quero, mas no que é o certo a fazer. Ela me guia à liberdade e à tão desejada paz de espírito. Pois tudo tem o seu tempo determinado, e há tempo para todo o propósito debaixo do céu (Eclesiastes 3:1). Então me sinto pronta para liberar de mim o que não é meu e fechar ciclos. Me sinto pronta pra perdoar de novo se preciso for, pronta pra amar, pra confiar, pra ajudar, pra vencer os medos, pronta pra seguir em frente. Pronta, mas não acabada. Sempre existe mais para aprender. Sempre existe mais para desapegar. E nessa minha gradual transformação, sigo tendo uma conversa franca com o coração: “-Calminha aí, sem afobação!”

– PROCESSOS EM ANDAMENTO –

Sou um ser em constante aperfeiçoamento e, para ser aperfeiçoada, inevitavelmente, sou submetida a processos. Existem processos curtos e processos bem demorados, mas todos eles possuem início, meio e fim. Processos geram mudança. Sou de certa forma “convidada” a sair da minha zona de conforto. Eles trazem à tona aquilo que eu conheço e desconheço sobre mim e na maioria das vezes são dolorosos, pois, posso ter que remover tijolos. Algumas coisas que estão apegadas a mim podem ter que ser arrancadas. E descontruir aquilo que já fazia parte do meu eu, pode me deixar vulnerável, como uma casa que tem os seus alicerces retirados. Sim, não é fácil estar em obras. Diante dos meus enfrentamentos e desconstruções, gosto de me visualizar como uma ave. Ela foi feita para voar. Voa alto, voa longe. Aproveita os dias e o vigor de suas forças. E quando cansam, descansam e retomam as forças para o próximo voo. Além de tudo, elas são cuidadas por Deus: “Observai as aves do céu: não semeiam, não colhem, nem ajuntam em celeiros; contudo, vosso Pai Celeste as sustenta” (Mateus 6:26). Permita-se mergulhar no seguinte relato:

Um certo dia, minha mãe achou um periquito ferido no quintal. Evidências apontavam que ele fora alvo de algum estilingue. Nos dispomos a cuidar daquele ser tão pequeno, no seu estado de fragilidade. Aos poucos, ele foi quebrando as resistências e já não rejeitava os pedaços de frutas que oferecíamos. Aos poucos, ele foi reagindo. Mas, as suas asas ainda não apresentavam condições de explorar o céu. Ele não era mais livre, apesar de nunca termos usado gaiola. Sentia falta do vento entre as suas penas. As aves não ficam muito tempo em solo porque o chão não é o seu lugar. Elas amam voar. Esse é o seu propósito de vida. Mas, por mais que nos esforçássemos para ajudar, parecia inútil. Ela estava vivendo um processo doloroso, a perda do seu bem mais precioso: a liberdade. Por um golpe tudo mudou bruscamente. Ela estava sendo submetida a um processo. Não entendemos as origens de um processo e sempre achamos que é imerecido. Outras pessoas podem suportá-los, menos nós. Melhor, as pessoas que consideramos más é quem deveriam ser afligidas. Foi então que a avezinha começou a reagir e por si só passou a comer. A partir do momento em que identifico o meu processo, entendo que preciso superá-lo. Ele não deve consumir as minhas forças. Ele não deve ser mais forte do que eu. Preciso tomar a iniciativa. Aos poucos, as penas foram crescendo e ela já arriscava dar saltos que se transformaram em voos de curta distância na cozinha. Enquanto isso, as penas cresciam. No meio do processo, as mudanças ocorrem e não percebemos. E é por isso que esse estágio não costuma ser identificado. Porque não conseguimos enxergar em nós mesmos os reparos em andamento. Apenas quando estão acabados. Em um dia comum, levei-a para o costumeiro banho de sol. Ela se deixou ser fotografada na sua árvore preferida, como num gesto de gratidão e adeus. Preparou as asas, bateu forte e voou. Voou o mais alto e longe que conseguiu. Meus olhos marejaram, mas, entendi que ali havia chegado o fim do seu processo. Ela estava apta a voar novamente e, embora não percebêssemos, as suas penas estavam renovadas e a ferida havia cicatrizado. Aquela avezinha, na sua irracionalidade, pode não ter entendido o motivo do seu processo mas ela mudou a rotina de uma família, trouxe alegria e ajudou, com o seu exemplo, outra “avezinha” a enfrentar o mesmo processo de recuperação de penas e cicatrização de feridas. Às vezes, podemos não compreender os motivos que nos levam a um processo doloroso e demorado. Mas, se serve de consolo, outras vidas podem ser transformadas enquanto sou curada ou através do meu processo superado.

“-SIGA O SEU CORAÇÃO.”

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